quinta-feira, 6 de junho de 2013

Memorial de Aires - Machado de Assis


Título: Memorial de Aires
Autor: Machado de Assis 
Editora: Edigraf
Páginas: 170
 



A escolha por Memorial de Aires para o tema Romance Psicológico revelou-se uma grata surpresa, como se costuma dizer, um texto espirituoso, com um pouco da história da época, já que foi escrito em 1888, ano da abolição, assunto que se faz presente aqui e ali, neste diário do Conselheiro Aires.


Com um texto que impôs o seu próprio ritmo, lido em pequenas doses que levavam a períodos de pausa e contemplação durante toda a leitura, foi para mim um jeito novo de ler, uma leitura sem pressa, mas sem interrupções. Nunca é demais dizer que o texto não é o que eu esperava, apesar de nem saber ao certo que esperava. 
A memórias escritas pelo conselheiro Aires muitas vezes parece ser a vida do casal Aguiar e de seus filhos de empréstimo(como ele costuma falar no decorrer da estória), mas o que é a vida de todos nós senão a vida de outros num emaranhado que não se sabe onde uma começa e outra acaba? E assim, narrando fatos da vida de seus amigos, Aires vai narrando a sua própria. Uma das resenhas que li fala que o Conselheiro Aires narra a vida de outros e não tece opinião, não concordo, os comentários que faz em todo o texto traduz claramente a opinião dele sobre o que acontece com àqueles à sua volta.

A escritura de Machado me faz lembrar de Adinoel Motta, que disse recentemente durante o encontro com Hélio Pólvora no Gabinete Português de Leitura, que só as palavras são capazes de criar representações tão perfeitas, imagem nenhuma é capaz de tecer tantos detalhes. 


Evidentemente que o livro de Machado me leva a pensar em outras leituras possíveis e já penso em ler Esaú e Jacó, já que o Conselheiro Aires também aparece nele, e já está na pilha. Fez-me pensar em ler As velhas, de Adonias Filho, livro que circula lá na comun do Orkut. E quem sabe Senilidade, de Italo Svevo (
que descobri fuçando a estante da Márcia lá no Skoob),  ou talvez  A indesejada aposentadoria, de Josué Montello? Talvez este último seja o que mais se aproxime das memórias do Conselheiro Aires...e já está na pilha também.

Um romance saudosista e que talvez os muito jovens não compreendam, afinal saudades de que? 


Os muitos grifos

"D. Carmo ia começar o crochê quando Fidélia lhe apareceu, e quis acompanhá-la. Consentiu para não sair trabalho de velha." [esqueci de anotar o nº da página]

"No caixão do defunto mandou guardar um molho dos seus cabelos, então pretos, enquanto os mais deles ficaram a embranquecer."  [16]

"Eu, lembrando-me de Goethe, disse-lhe:
- Mana você as querer fazer comigo a aposta de Deus e Mefistófeles; não conhece?" [19]


"Não há nada mais tenaz que um bom ódio." [39]


Você repara que tudo naquela senhora é bom, até a opinião, que nem sempre é justa, porque ela perdoa e desculpa a todos. Eu não sou assim; acho muita gente má, e se for preciso dizê-lo, digo." [60]


"Era negócio dos barbeiros e dos farmacêuticos, creio; a sangria é que era só dos barbeiros. Também se já não sangra pessoa nenhuma. Costumes e instituições, tudo perece." [68]


"A reconciliação eterna, entre dois adversários eleitorais, devia ser exatamente um castigo infinito.Não conheço igual na Divina Comédia Deus, quando quer ser Dante, é maior que Dante.Recuei a tempo e calei a facécia; era rir da tristeza da moça." [69]


"Verdade é que então já não citava eu o verso de Shelley, ma uma coisa é citar versos, outra é crer neles." [74]


"A gente não esquece nunca a terra em que nasceu." [75]


"Velhice quer descanso. [77]

Se eu não tivesse os olhos adoentados dava-me a compor outro Eclesiastes, à moderna, posto nada dever moderno naquele livro." [77]


"Quando eu era moço e andava pela Europa ouvi dizer de certa cantora que era um elefante que engolira um rouxinol." [93] (este trecho foi usado Rubem Braga na crônica )


"Eu tenho a mulher embaixo do chão de Viena, e nenhum dos meus filhos saiu do berço do Nada. Estou só, totalmente só"  [97]


"Entendam lá as mulheres! Tanta necessidade ir à fazenda e já. Campos alcança uma licença de alguns dias, Tristão apronta a mala, e tudo feito, cessa a necessidade de partir". [101]


"A maledicência não é tão mau costume como parece. Um espírito vadio ou vazio encontra nela útil emprego." [114]


"-(...); mas tudo pode acontecer neste mundo. - Neste mundo e no outro." [126]


"Os velhos não são a causa verdadeira, mas não há só filhos de empréstimo, há também causas de empréstimo." [127]


"Não há como a paixão do amor para fazer original o que é comum, e novo o que morre de velho." [149]

Um comentário:

  1. Ainda nao li Memorial de Aires, mas fiquei com vontade ao ler sua resenha e as citaçoes. Tb li Machado para o desafio
    http://organizando-o-caos.blogspot.ca/2013/06/desafio-literario-dom-casmurro.html

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